Crak um caminho sem volta

Uma “escalada social” que vem ocorrendo nos últimos anos preocupa as polícias que atuam no Rio Grande do Norte. O crack, droga sintética produzida com a borra da cocaína, aos poucos, aumenta sua área de abrangência e começa a ser consumida também por jovens da classe média natalense. Os atrativos imediatos são dois: o preço da "pedra", muito mais baixo que uma "trouxinha" de maconha, por exemplo, e o alto poder alucinógeno da droga.A primeira apreensão de crack no Estado foi em 1994. "Foram apenas 200 gramas. Mas, Na época, isso chamou muita atenção", lembrou um agente da Polícia Federal que participou da apreensão. De lá para cá, o número de apreensões cresceu geometricamente, chegando a uma média de quatro por mês somente no RN. A maior das apreensões foi registrada no ano passado, quando, de uma só vez, a PF localizou 44 kg do entorpecente.
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O crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro e já começa a produzir seus efeitos.
Historicamente, o crack sempre foi ligado à periferia das grandes cidades. O mesmo quadro se repetia em Natal. "Mas já soubemos de casos de jovens de classe média que, por estarem sem uma quantia maior de dinheiro, ou apenas por quererem experimentar a droga, acabaram comprando e consumindo o crack", falou o delegado Paulo Henrique Oliveira Rocha, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Polícia Federal.O perigo da experimentação se dá pelo fato do alto poder de dependência que o crack tem. Especialistas dizem que os efeitos produzidos no usuário são basicamente iguais ao da cocaína, porém muito mais intensos. Causa irritabilidade, depressão e paranóia, algumas vezes levando o usuário a ficar violento. Afeta a memória e a coordenação motora, provocando um emagrecimento acentuado, debilitando o organismo como um todo. Atualmente, é a droga que mais causa devastação no organismo do usuário.O crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro e já começa a produzir seus efeitos: forte aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremor muscular e excitação acentuada, sensações de aparente bem-estar, aumento da capacidade física e mental, indiferença à dor e ao cansaço.Mas se a droga leva apenas 15 segundos para chegar ao cérebro e começar a produzir estes efeitos, estes também tem um curto período de duração: cerca de 15 minutos. A cocaína endovenosa, por exemplo, produz as primeiras reações em 3 a 5 minutos, com duração que varia entre 30 e 45 minutos.Esta característica talvez explique o poder que esta droga exerce sobre seus usuários. A compulsão para o uso do crack (a chamada fissura) é muito mais poderosa que a desenvolvida pela cocaína aspirada ou injetada.Segundo a polícia, o crack hoje figura como a principal substância entorpecente consumida em Natal. "Esse 'posto' sempre foi ocupado pela maconha. Mas hoje, baseado em estatísticas, podemos afirmar que pertence ao crack", disse uma fonte.Embora esteja nessa "escalada social", o crack ainda é encontrado com maior freqüência e consumido em bairros periféricos. "Aqui em Natal, o crack está na zona Oeste, nas Rocas, em Mãe Luíza, nos bairros mais afastados da Zona Norte e, principalmente, na Vila de Ponta Negra", disse o delegado Paulo Henrique Rocha.Essa predominância na periferia também leva a outro dado: a relação entre o crack e o aumento de registros de crimes nessas localidades. Isso é explicado pelo ciclo vicioso criado pela droga: o jovem rouba para comprá-la e, quando está drogado, pratica mais crimes. Ainda há um outro resultado: o crescente número de assassinatos por conta de dívidas decorrentes do tráfico. Esta realidade é mais freqüente justamente entre os usuários de baixa renda.Cidade consumidoraAo contrário do que ocorre com outras drogas, Natal não está na rota do tráfico internacional de crack. A cidade é tida como um dos pontos finais do tráfico desse entorpecente, figurando como "cidade-consumidora". Desde o registro da primeira apreensão, a Polícia Federal chegou a estourar três laboratórios onde a droga era produzida. "Eram locais, afastados da cidade, onde a pasta base de cocaína era desdobrada no crack. Mas já faz tempo que isso não é registrado no Estado", falou o delegado federal Paulo Henrique Oliveira Rocha.Mas a maior parte do crack consumido no RN vem da Bolívia ou da Colômbia. De lá, segue geralmente para São Paulo, de onde é trazido para o Estado por "mulas".O delegado Paulo Henrique Rocha desmentiu o mito de que, para cada quilo de droga apreendido pela polícia, pelo menos outros dez chegariam ao destino final. "Isso não passa de conto popular. Claro que a não conseguimos apreender tudo, até porque as pessoas continuam consumindo droga. Mas não é essa quantidade toda de droga que passa sem ser apreendida".Ele falou que a Polícia Federal vem desempenhando a atribuição dela, mas ressaltou a importância que a sociedade como um todo tem no combate ao tráfico de drogas. "Estamos fazendo a nossa parte, mas é preciso que a família, a igreja, a escola e toda a sociedade esteja envolvida nessa luta". Ele disse que a PF disponibiliza o telefone 194 para o recebimentos de denúncias sobre drogas e assegurou que a identidade do denunciante é preservada.
O crack
A drogaAo contrário da maioria das drogas, o crack não tem sua origem ligada a fins medicinais: ele já nasceu como uma droga para alterar o estado mental do usuário. Pequenas pedras de formatos irregulares, fumadas em cachimbos na maioria das vezes improvisados. O crack é uma mistura de cocaína em pó, convertida em alcalóide por um álcali (amônia ou bicarbonato de sódio). Recebeu este nome porque faz um pequeno estalo na combustão quando fumado. Mais barato que a cocaína, produz um efeito forte que dura muito pouco tempo, aumentando o consumo rapidamente e encarecendo a dependência. Em Natal, uma pedra de crack custa, em média, R$ 5.Os sintomasO comportamento do usuário de crack muda rápido e intensamente. Ele vai mal na escola (ou a abandona), tem um sono altamente perturbado, emagrece muito, isola-se dos outros e começa a apresentar sintomas de paranóia. Acha que está sendo seguido ou que caiu alguma pedra de crack no chão. Também fica apático, introvertido. A cocaína age ainda sobre as pupilas dos olhos, podendo dilatá-las. O tratamento Depende do estado de cada paciente. Vai do tratamento ambulatorial até a internação domiciliar ou em clínicas especializadas. A sua principal dificuldade, segundo o dr. Ronaldo Laranjeira, é a "fissura", a vontade que o usuário sente de usar a droga. A fase inicial é a mais difícil, e dura, geralmente, uma semana. O jovem só é considerado totalmente reabilitado depois de dois anos de abstinência. O material utilizado para o consumo desta droga é o cachimbo, normalmente produzido artesanalmente com uma lata de refrigerante com um furo na lateral para inserção do canudo por onde a fumaça será aspirada, colocando-se a pedra de crack no orifício superior da lata por onde o refrigerante é bebido. Copos de água mineral com tampa de papel de alumínio também são muito utilizados.

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